A Implicância de Liberais Conservadores com o Progressivismo e o Construcionismo na Educação-1

Os termos que figuram no título (demasiado longo!) deste artigo se referem, de certo modo, a duas áreas (ou sub-áreas) de conhecimento. Os termos “liberais” e “conservadores” se relacionam com os conceitos de Liberalismo e Conservadorismo, que normalmente aparecem na Filosofia Política (que deveria ser chamada da Filosofia da Política, mas vou seguir a tradição e falar em Filosofia Política). Os termos “Progressivismo” e “Construcionismo” se relacionam a correntes de Filosofia da Educação (aqui quase não se usa, hoje, a expressão Filosofia Educacional). 

Na área da FILOSOFIA POLÍTICA, tenho sido, desde 1966 [1], há mais de 55 anos, um constante defensor do Liberalismo Clássico de John Locke, David Hume, Adam Smith, e, em parte, de John Stuart Mill, entre os principais autores anteriores ao século 20, e de Ludwig von Mises, Friedrich von Hayek, Milton Friedman, Ayn Rand, e, em parte, de Karl Popper, entre os principais autores do século 20 – dois desses autores do século 20 foram agraciados com o Prêmio Nobel de Economia: von Hayek, em 1974 (com Gunnar Myrdal) e Friedman, em 1976 (sozinho) [2]. 

Nos últimos quinze anos, porém, tenho defendido, também, até de forma preferencial, o Libertarianismo Anárquico, ou Anarquismo Libertário, ou Anarco-Capitalismo (uso essas três expressões como equivalentes), cujo principal representante, nos Estados Unidos, no século 20, sem dúvida alguma, é Murray Newton Rothbard. Coloco Rothbard como a principal figura neste caso, porque (mesmo que já falecido há algum tempo) é a figura mais conhecida e representativa dessa tendência. Ele se alinha mais com Ludwig von Mises do que com os outros autores liberais do século 20. Acrescento, porém, o nome de dois de seus sucessores na liderança desse movimento: Hans-Hermann Hoppe e Erik-Ritter von Kuehnelt-Leddhin. Menciono esses três nomes sem prejuízo de meu interesse em alguns anarquistas europeus, não marxistas, do século 19. Curiosamente, todos eles são russos: Mikhail Bakunin e Piotr Kropotkin, ambos identificados com a tendência conhecida como Anarco-Socialismo ou Anarco-Coletivismo, e Liev (Leon) Tolstoy, com sua forma própria de anarquismo, chamada por alguns de Anarquismo Cristão

Registro, desde já, que, embora liberal ou libertário, minha principal oposição ao Socialismo ou ao Coletivismo é feita às suas formas estatais, ou estatistas, em que cabe ao Estado promover a socialização dos meios de produção (economia) e a coletivização da sociedade. Se o Socialismo ou Coletivismo é anárquico, isto é, vem precedido do qualificativo “Anarco-“, e, portanto, prescinde do Estado para promovê-lo, eu fico bem mais descontraído e minha oposição se reduz consideravelmente. Isso explica o meu interesse por Bakunin e Kropotkin. O interesse em Tolstoy se deve principalmente ao seus seus escritos e às suas iniciativas na área da chamada Educação Libertária (que é algo mais radical do que a chamada Educação Democrática).. 

A questão do Conservadorismo será discutida no próximo artigo desta série.

Na área da FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO, que eu entendo como uma reflexão de segunda ordem sobre os discursos (de primeira ordem) que são feitos pela Pedagogia, pela  História da Educação, pela Psicologia da Educação, pela Sociologia da Educação, pela Antropologia da Educação, pela Economia da Educação, etc. é mais fácil especificar a que e a quem eu me oponho, do que a que e a quem eu me disponho a defender – mas não me furtarei de fazer isso. 

Sou, em primeiro lugar, contrário a toda e qualquer forma de Educação Estatal (administrada, financiada, controlada pelo Estado), e, portanto, sou contra a Educação Pública – acredito que eu seja um caso raríssimo, nos dias atuais, de oposição à Educação Pública. Sou, numa variação pequena, também contra toda e qualquer forma de Educação Obrigatória ou Compulsória em que o indivíduo é obrigado ou compelido a se educar (ou ser educado). Na realidade, hoje vou além (mas nem sempre pensei assim) e sou contra toda e qualquer forma de Educação Escolar, mesmo que ela seja não-estatal e, portanto, privada ou particular. 

Colocando a minha forma de pensar em uma perspectiva mais positiva, sou favorável à seguinte tese: tudo que diz respeito à educação de um indivíduo deve ser definido e controlado por ele próprio, tão logo seja capaz de tomar esse tipo de decisão. O indivíduo se torna capaz de cuidar da própria vida e tomar esse tipo de decisão por volta dos doze anos de idade – quando deveria também poder ser objeto de ação penal ao cometer um crime. A colocação dessa idade ao redor dos doze anos é algo meio arbitrário, mas, pelo menos, historicamente defensável. Doze anos é a idade do bar mitzvah, no Judaísmo, do batismo, nos ambientes religiosos cristãos que rejeitam o batismo infantil, da confirmação, consagração ou profissão de fé, nos ambientes religiosos cristãos que aceitam o batismo infantil, mas adicionam esse passo a ele. Enfim: por volta de doze anos tem sido fixada a chamada Idade da Razão – cujo início, razoavelmente, coincide com o início da puberdade, a idade em que um menino e uma menina adquirem a capacidade biológica de ter filhos. O início da Idade da Razão e o início da Idade da Procriação se equivalem. Antes desse momento, o que a partir dessa idade se torna responsabilidade do indivíduo é responsabilidade de seus pais, ou de quem lhes faça as vezes. 

Isso quer dizer que, como liberal ou libertário, o cerne do meu ponto de vista está na liberdade de aprender – que é a liberdade do aprendente, tão logo este tenha condições de assumir essa responsabilidade. O resto é consequência. Sou contra a educação escolar porque ela, mesmo que privada ou particular, e mesmo quando de boa qualidade, força a delegação, por parte do indivíduo, de sua inalienável e intransferível liberdade de aprender, para a escola (e para os que nela militam: diretores, orientadores, supervisores e, principalmente, professores ou ensinantes), A educação escolar implica uma transferência de um direito individual, o de aprender, que é intransferível.

O direito de decidir se, porque, quando, onde, e como um indivíduo na idade da razão deve, ou simplesmente vai, aprender alguma coisa, qualquer que seja, é única e exclusivamente dele, indivíduo, célula menor da sociedade. Não é nem sequer dos pais dele – quanto mais de uma escola, de uma comunidade, da uma igreja, da sociedade como um todo, ou, muito menos ainda, do Estado. Esse direito, repito, é dele, e é inalienável e intransferível como os demais direitos individuais que um liberal ou libertário reconhece e defende: o direito à integridade física e mental, o direito de ir e vir, o direito de se associar, o direito de manter consigo o fruto do seu trabalho, o direito de estabelecer contratos, e o direito de ter propriedade de qualquer tipo (menos de um outro indivíduo). O indivíduo é, na minha maneira de ver as coisas, dono (proprietário) de si próprio, de sua mente e de seu corpo, e tem todo direito de decidir o que fazer de sua vida, até mesmo de terminá-la por decisão própria (direito ao suicídio). A propriedade de si próprio, da própria pessoa, é a primeira propriedade privada que um indivíduo deve ter. Ele pode até destruir essa propriedade, mas não pode aliená-la: transferi-la a terceiros, sem deixar, no processo, de ser um ser humano livre, autônomo, protagonista de sua própria vida e autor de sua própria história.

Diante dessa breve exposição inicial, já começa a ficar evidente, creio eu, por que é que eu, um liberal ou libertário (que é um liberal mais radical do que os demais), sou contra a educação tradicional, convencional, conservadora, obrigatória, centrada na escola, predominantemente estatal ou pública, que, mesmo no caso da escola particular ou privada, é focada no papel do professor. O currículo, a metodologia e a forma de avaliação são pré-definidos e pré-determinados, seja isso feito pelos professores da escola em suas salas de aula, seja isso oficialmente feito pela própria escola, através de seus dirigentes ou gestores, para todos os professores, seja isso feito pelo sistema de educação, de qualquer nível ou natureza, a que pertence a escola, para todas as escolas do sistema ou da rede. 

Meu conceito mais básico de educação é oriundo em Jean-Jacques Rousseau, em seu magnífico livro Émile, ou de l’Education: tudo aquilo que o indivíduo precisa para construir a sua vida (isto é, a vida que ele deseja para si próprio, e para a qual define um plano ou projeto de vida), e que não lhe é dado antes de ele nascer (isto é, tudo o que não lhe é inato), ele precisa obter através da sua educação. É evidente — tão evidente que deveria dispensar a necessidade de ênfase — que ele não vai definir seu plano ou projeto de vida, muito menos construir, em cima dele, a sua vida e a sua história, sozinho, como se fosse um ermitão, ou um Robinson Crusoe perdido, sozinho, em uma ilha isolada. O ser humano não é isso. Mesmo depois da idade razão ele continua a ter família, parentes, amigos, colegas, conhecidos, contatos no Facebook, oportunamente um cônjuge e um lar próprio, depois (espera-se) filhos, etc. e ele pode recorrer a eles, ou ainda a outros, sempre que quiser, e deve recorrer, todas as vezes que achar necessário fazê-lo – mas sempre por decisão dele próprio, e somente dele, e sob responsabilidade única e exclusiva dele. 

Educação, portanto, é um processo de desenvolvimento humano. Se não nos educarmos mutuamente — “em comunhão” com os outros, como diz Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido, ou em interação, em conversa, em diálogo, em debate, em discussão, em controvérsia com os outros, ainda que os outros estejam representados pelos textos e livros que escreveram, bem como observando, interagindo e fazendo uso da realidade natural (a natureza) – se não nos educarmos assim, repito, não nos tornaremos seres humanos no sentido pleno da palavra, qual seja: indivíduos livres, autônomos, protagonistas na construção, cada um, de sua própria vida e de sua própria história. Sem educação, seremos como bebês que acabaram de nascer: na melhor das hipóteses, parasitas, em tudo dependentes dos outros; na pior das hipóteses, para sempre seres heterônomos, teleguiados, telecomandados, programados e conduzidos por terceiros, como se fossem robôs, programados e dirigidos por outrem

Ficou claro, agora, eu espero, por que razão eu sou realmente liberal ou libertário, e o que isso envolve e implica. Mas tentarei explicitar ainda mais: sou liberal ou libertário, e por causa disso: 

  • Sou contra a educação tradicional / convencional, predominantemente escolar, e majoritariamente estatal e obrigatória; e 
  • Sou a favor de uma educação individualista, livre e libertária, não coletiva / não coletivista, não socialista / não comunista, não comprometida com nenhum objetivo ou meta que não se identifique claramente como meu próprio, uma educação não tutelada, nem, muito menos, comandada ou guiada, por coletivos, classes sociais, raças, sexos ou gêneros, ou suas lideranças ou vanguardas, quaisquer que sejam, como, por exemplo, sindicatos ou equivalentes, a “sociedade civil organizada”, a ONU, outras organizações internacionais, como a Internacional Socialista e a Internacional Comunista, etc. 

Essa educação da qual sou a favor é a educação que eu chamo educação progressista e construcionista (ou construtivista, se preferem — vou usar os termos como equivalentes, mesmo sabendo que há autores que investiram bastante na sua diferenciação). E eu citei dois nomes importantes nela: Jean-Jacques Rousseau e Paulo Freire. Faltou citar John Dewey, o que será feito no devido momento. Este é o meu primeiro artigo nesta linha. Mas não será o último. Quem for ansioso ou não quiser esperar, pode ler meu artigo anterior neste blog: “Rousseau e a Educação: Um Breve Apanhado”.

Vou começar a analisar e criticar, a partir deste artigo, as propostas de liberais e de conservadores que defendem, não a educação inovadora que eu defendo, mas a educação tradicional ou convencional, brasileiros, como Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino, a quem estimo, e vários outros, estrangeiros como Inger Enkvist, sueca, introduzida e divulgada no Brasil por liberais bem intencionados, mas que nada entendem de educação inovadora, progressista, verdadeiramente construcionista ou construtivista. A educação progressista e construcionista / construtivista é aquela que defende o direito de aprender do indivíduo, que é o direito de aprender tudo aquilo que ele, não tendo recebido no ventre materno, decide que precisa para definir e construir sua vida livre, autônoma, da qual ele é não apenas protagonista, mas produtor, diretor, roteirista, e ator principal – e não ator coadjuvante, nem, muito menos, mero figurante, que é a única coisa que ele de fato é na educação escolar tradicional.

No artigo seguinte, discutirei o Conservadorismo, sobre que nada falei até aqui e agora. Tendo mostrado, neste artigo, em que sentido sou inovador, e mesmo revolucionário, na educação, mostrarei, em um terceiro artigo, em que sentido sou conservador na área da educação

Até lá. 

NOTAS

[1] Eu descobri o Liberalismo Clássico em 1966, em plena vigência do Governo Militar aqui no Brasil, quando eu estudava no Seminário Presbiteriano do Sul (SPS), da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), localizado em Campinas, SP. Eu era aluno do terceiro ano do Bacharelado em Teologia, era Secretário do Centro Acadêmico “Oito de Setembro” (CAOS), e editor e redator chefe daquela que foi (tanto quanto eu saiba) a primeira publicação oficial do CAOS, que tinha o título de “O CAOS em Revista”. Todos os números desse jornal (hoje seria chamado de Newsletter, provavelmente) que foram publicados sob minha direção (quatro números) foram confiscados pela Reitoria do Seminário, que, depois do segundo confisco, colocou “O CAOS em Revista” debaixo de “censura prévia” (não obedecida — razão pela qual fui expulso do seminário em Agosto de 1966). Foi na preparação de editoriais e artigos para os quatro números publicados e confiscados que eu vim a ler “On Liberty”, de John Stuard Mill. O ano de 1966 marca, portanto, o ano em que me tornei conscientemente um Liberal Clássico. Um segundo passo, extremamente importante, na minha evolução como liberal clássico se deu em 1973, quando eu já trabalhava no Pomona College, em Claremont, CA, depois de ter obtido meu Doutorado, em 1972. No meu artigo “A Greve dos Patrões: Aqueles que Sustentam o Mundo em suas Costas”, publicado neste mesmo blog, em 29.10.2022, no endereço https://chaves.space/2022/10/29/a-greve-dos-patroes-aqueles-que-sustentam-o-mundo-em-suas-costas, eu explico, na Nota 4, como se deu o meu primeiro contato com Ayn Rand. Escrevi eu: “Eu trabalhava, na ocasião, no Departamento de Filosofia do Pomona College, situado (a despeito do nome) em Claremont, CA, que é um pedaço da Nova Inglaterra no Sul da California. Quem me indicou e recomendou o livro [Atlas Shrugged (A Revolta de Atlas), de Ayn Rand] foi meu colega, especializado em Ética e Filosofia Política (a minha área era Metafísica, Epistemologia e Filosofia da Religião), J. Charles King, que, mais tarde, se tornou presidente do Liberty Fund. Em uma nota curiosa, mais para o fim da vida, Charles, que era agnóstico ou ateu (os limites são fluidos, de vez em quando) se converteu à Igreja Anglicana e se tornou sacerdote. Ele, nascido em 1940, faleceu em 2019, dias antes de completar 79 anos. Vide seu interessante obituário em https://flannerbuchanan.com/obits/j-charles-king/. Sou para sempre devedor a ele pelo conselho que me deu de ler Ayn Rand, começando com Atlas Shrugged. Ele me disse, na ocasião, que, depois de ler essa livro, eu não iria sossegar enquanto não lesse tudo que Ayn Rand havia escrito. Estava absolutamente certo. Na ocasião, Ayn Rand ainda estava viva. Ela, que havia nascido em 1905, em St Petersburg, na Rússia, morreu em 1982, em New York. [Acrescentada em 2.11.2022].

[2] Qualifiquei John Stuart Mill e Karl Popper porque, com o tempo, percebi, primeiro, através de críticas de Ayn Rand e de Frederick von Hayek, que o liberalismo de Mill continha algumas simpatias socialistas. Recomendo aqui a leitura do livro que von Hayek escreveu sobre Mill e sua mulher, Harriet Taylor. Vide F. A. Hayek, Hayek on Mill: The Mill-Taylor Friendship and Related Writings (The Collected Works of F. A. Hayek, vol. XVI [série da qual o meu Orientador de Doutorado, William W. Bartley, III, foi o Founding Editor], volume editado por Sandra J. Peart (University of Chicago Press, Chicago, 2015, disponível em ebook, Kindle Edition). Vide ainda Andrew Farrant, ed., Hayek, Mill, and the Liberal Tradition (Routledge Studies in the History of Economics, vol. 121, Taylor and Francis, Abingdon, Oxon, 2011, disponível em ebook, Kindle Edition). Acerca do liberalismo de Popper, minha atenção foi chamada para algumas de suas peculiaridades por Ernest Gellner. Especificamente, a minha atenção foi atraída para a questão da semelhança entre o liberalismo de Mill e o liberalismo de Popper. Em seu artigo “Beyond Truth and Falsity”, publicado originalmente na seção de Resenhas (Review Articles) do British Journal for the Philosophy of Science (vol. 26 (1975), pp.331-342), Gellner faz uma crítica do livro Against Method, de Paul K. Feyerabend (New Left Books, Londres, 1975). Feyerabend, um ex-aluno de Popper, que virou um anarquista de esquerda, afirma no livro: “A filosofia de Popper, que alguns gostariam de nos impingir como o único racionalismo humanitário hoje existente, não passa de um pálido reflexo do ensaio On Liberty, de Mill. Ela é … muito mais formalista e elitista e totalmente desprovida de qualquer preocupação com a felicidade individual [. . .] Poderemos compreender-lhe as peculiaridades se levarmos em conta [. . .] o inflexível puritanismo de seu autor (e da maioria de seus seguidores) e se lembrarmos a influência de Harriet Taylor sobre a vida e a filosofia de Mill. Não há nenhuma Harriet Taylor na vida de Popper” (p.48, nota, do livro de Feyerabend). O comentário de Gellner a esse trecho do livro é delicioso e exibe sua língua ferina: “A passagem é certamente picante. Meu próprio liberalismo, porém, vai ao ponto de afirmar que nem mesmo os puritanos estão excluídos da verdade (aliás, alguns dos meus melhores amigos são puritanos) e que até mesmo os professores de filosofia têm liberdade, se tão excêntricas forem as suas inclinações, de se absterem de amantes. Isso não é algo que deveria expô-los a censuras ou tornar suspeitas as suas opiniões. Mas talvez meu liberalismo vá longe demais.” Foi a partir desse artigo de Gellner que eu procurei investigar mais a fundo o liberalismo de Popper. Antes havia me interessado principalmente por sua Filosofia da Ciência. William W. Bartley III, que foi meu Orientador de Doutorado, foi orientado em seu Doutorado por Popper, na London School of Economics. [A tradução das duas citações feitas neste parágrafo é da tradução do artigo de Gellner para o Português, feita por meu antigo colega na UNICAMP, Balthazar Barbosa Filho, publicado nos Cadernos de História e Filosofia da Ciência (CHFC), do Centro de Lógica e Epistemologia (CLE) da UNICAMP, do qual fui sócio fundador, com o título “Além da Verdade e da Falsidade”, publicado no vol. I (1980), pp. 62-76 e disponível na Internet em https://opessoa.fflch.usp.br/sites/opessoa.fflch.usp.br/files/CHFC-s1-v1-artigo4.pdf. Compare-se a esse respeito ainda o livro de Jeremy Shearmur, The Political Thought of Karl Popper (Routledge, London & New York, 1966, disponível em versão ebook, Kindle Edition). [Acrescentada em 2.11.2022].

Em Salto, 28 de Setembro de 2022. [Revisado, com acréscimo dessas duas notas, em 2 de Novembro de 2022.]

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A Greve dos Patrões: Aqueles que Sustentam o Mundo em suas Costas

De todos os milhares de livros que eu li ao longo da minha vida, que está em seu octogésimo ano, o romance Atlas Shrugged [1] (A Revolta de Atlas [2]), de Ayn Rand (1905-1982) [3] , publicado em 1957, foi, para mim, o mais importante. Ganha fácil de outros livros de ficção, bem como de livros de não-ficção nas áreas de história, filosofia, teologia, direito, educação, tecnologia, que são as áreas em que mais li ao longo da minha vida. Comparativamente falando, li muito pouco, quase nada, na área chamada científica – e não pretendo mudar agora. Atlas Shrugged ganha, em importância, na minha vida, até mesmo da Bíblia, que foi o livro no qual, ou com o qual, eu aprendi a ler, mais ou menos sozinho, em Maringá, por volta dos cinco anos. (Só entrei na escola quando já tinha oito anos e meio, em Fevereiro de 1952, em Santo André). Atlas Shrugged, que eu li pela primeira vez em 1973, quando tinha trinta anos e morava em Pomona [4], na California, me ajudou a colocar ordem nas minhas ideias, me ajudou a formular uma visão coerente de mundo, que mantenho até hoje, quase cinquenta anos depois, a despeito de pequenos ajustes, aqui e ali, em aspectos que são acessórios, não essenciais.

O história do livro, escrito por uma judia russa, naturalizada americana, se passa nos Estados Unidos numa época que, nos anos 50, quando foi escrito, se pretendia claramente futura – algo, talvez, perto dos dias de hoje. A data precisa não é fornecida por Rand (cujo nome de nascença era Alyssa Zinovievna Rosenbaum). A Europa, no livro, já é totalmente socialista (composta de várias “Republiquetas Populares” disso ou daquilo – da Inglaterra, da França, da Alemanha) e os Estados Unidos, único país que não sucumbiu totalmente ao socialismo, permanecendo liberal e capitalista, enfrentam uma onda socializante quase irresistível, em todas as áreas, desde a econômica até a artística, passando por tudo que está no meio. Quase não há referência à América Latina no livro, exceto ao Chile (um dos principais personagens da história, Francisco d’Anconia, nasceu e foi criado no Chile, embora tenha feito curso superior nos EUA) e ao México (os dois países socialistas quando a história do livro acontece). A história se passa basicamente nos Estados Unidos. Nova York é a cidade em que boa parte da ação acontece, mas o Estado do Colorado tem um papel importante, como o local em que um novo país é gestado. A cidade de Cleveland, no Estado de Ohio, tem um papel interessante por ser a sede daquela que foi o último centro de liberalismo no país: a Patrick Henry University. O nome da universidade é significativo. Patrick Henry foi um dos revolucionários americanos que teve papel importante no processo de independência dos EUA da Inglaterra. É dele o famoso discurso, proferido em Virginia, em 23 de Março de 1775, que termina com esta frase que, para mim, é de arrepiar:

“Is life so dear, or peace so sweet, as to be purchased at the price of chains and slavery? Forbid it, Almighty God! I know not what course others may take; but as for me, give me liberty or give me death!” (Será a vida tão preciosa, e a paz tão doce, que, para preservá-las, vale a pena pagar o preço da opressão e da escravidão? Que disso nos poupe o Deus Todo-poderoso! Não sei que curso os senhores pretendem seguir; mas, quanto a mim, ou eu tenho liberdade, ou, então, prefiro a morte!). [5]

Transcrevo a seguir um curtíssimo artigo (espaço limitado pelo jornal) que escrevi, em Outubro de 2010, doze anos atrás, sobre A Revolta de Atlas, a pedido da Folha de S. Paulo – que, então, ainda era um jornal, não um pasquim vagabundo… O artigo saiu na seção na seção “Cifras & Letras”, na subseção “Crítica – Liberalismo”:

“Ayn Rand ataca socialismo mostrando o que acontece quando os patrões fazem greve

Este livro formou economistas como Alan Greenspan, ex-presidente do Fed [Federal Reserve Bank (o Banco Central Americano)]

Por EDUARDO CHAVES

Especial para a Folha

A REVOLTA DE ATLAS

A Bíblia do pensamento liberal na segunda metade do século vinte não foi um livro de economia ou de filosofia política: foi um romance: Atlas Shrugged, a clássica defesa da liberdade, do individualismo e do capitalismo escrita por Ayn Rand (1905-81), romancista e filósofa russo-americana. O livro acaba de ganhar nova edição em português, com um título novo: A Revolta de Atlas. A edição anterior, publicada em 1987, e há muito esgotada, tinha o título de Quem é John Galt? A tradução é a mesma, mas foi editada e revisada pela editora Sextante.

Com 1.232 páginas na presente edição, o livro tem um enredo extremamente complexo e bem elaborado, que não é possível exatamente resumir aqui. No entanto, uma descrição, ainda que breve, do tema escolhido por Rand dá ideia da dimensão da obra.

O título provisório do livro, durante os anos em que foi redigido, era The Strike (A Greve). A tradução para o Francês manteve esse título: La Grève. Originalmente publicada em 1957, a história se passa nos Estados Unidos, numa indefinida época futura em que o país, seguindo o exemplo de países europeus e latino-americanos, caminha para o socialismo e resolve regular, e assim controlar, e virtualmente confiscar, trazendo-a para as mãos do estado, a sua economia.

A GREVE DOS PATRÕES

O livro descreve o que acontece quando aqueles que (como Atlas) sustentam o mundo nas costas resolvem fazer greve, sacudindo o mundo dos ombros e deixando que ele literalmente se dane. “Vamos ver o que acontece ao mundo quando quem faz greve contra quem” é frase (retirada do livro) que resume o tema da obra.

Entrando em greve, os empresários americanos simplesmente desistem de lutar e começam a desaparecer de cena, de um dia para o outro, abandonando suas empresas nas mãos de reguladores e controladores estatais e dos sindicatos dos trabalhadores. Grandes filósofos, cientistas e artistas também desaparecem, simplesmente abandonando, da noite para o dia, seus empreendimentos.

O lado otimista da história é que o Estado pode até confiscar empresas e outros empreendimentos, mas não consegue obrigar empresários e outros empreendedores a lhe arrendar suas mentes, sua criatividade, sua competência, seu trabalho. O Estado e seus apaniguados, os trabalhadores, através dos seus sindicatos,, portanto, que fiquem com os empreendimentos, decidem os proprietários e patrões na história. Mas eles não colocam mais suas mentes a serviço da sustentação de um mundo onde esse tipo de confisco pode acontecer. (Na realidade, o que deixam para o Estado espoliador não passa da carcaça de empresas e empreendimentos cuja alma eles levaram consigo. A carcaça logo começa a deteriorar e a feder.)

CAOS

A história narra nos mínimos detalhes o caos que resulta dessa inusitada greve em que aqueles que normalmente são vítimas das greves, os empreendedores, retiram do mercado a sua mente e o seu trabalho, e, no processo, deixam o mundo sem esses bens, sem esses seus serviços, e, consequentemente, sem empregos. Quando Atlas faz greve, o mundo literalmente desmorona (mais ou menos como aconteceu com o mundo comunista em 1989) e, finalmente, pára. Entra em colapso.

Ao final da história, quando as luzes do velho mundo (literalmente) se apagam, em um apagão gigante da Costa Leste dos EUA, que simboliza a derrocada que lhe sobrevém quando Atlas deixa de sustentar o mundo, a porta está aberta para a construção de um mundo novo: a greve termina e Atlas está pronto para reassumir seu lugar.

EDUARDO CHAVES foi professor titular de filosofia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e, depois de sua aposentadoria, em 2007, leciona filosofia da educação até hoje [9.10.2010] no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL).

LIVRO: A Revolta de Atlas

AUTORA: Ayn Rand

TRADUÇÃO: Paulo Henriques Britto

EDITORA: Sextante

QUANTO? R$ 69,90 (1.232 págs.)

Em São Paulo, 9 de Outubro de 2010” [6]

O Brasil, hoje, se encontra em situação semelhante àquela em que estavam os Estados Unidos na história narrada pelo livro. Temos um presidente literalmente heróico, acompanhado de várias pessoas extremamente competentes, mas o país está nas mãos de um bando de ministros desmiolados na nossa Suprema Corte, de políticos sem visão e de uma mídia imoral. O primeiro turno das eleições mostrou que o Congresso  foi mudado significativamente. Mas isso, por si só, não é suficiente. No segundo turno da eleição presidencial – eu tenho dificuldade de acreditar nisso – tem chances de, com todas as falcatruas que vêm sendo perpetradas pelo STF e pelo TSE, hoje controlados pelo mesmo imbecil, voltar ao poder O ATRASO, A CORRUPÇÃO, A ROUBALHEIRA, A VISÃO SOCIALISTA DE MUNDO.

Amanhã temos uma última chance de resistir e não deixar que isso aconteça. Se as forças do atraso, da corrupção e da roubalheira, ganharem, que Deus nos poupe, como disse Patrick Henry, podemos entrar em guerra, como as colônias americanas da Inglaterra entraram em 1776, um ano depois do discurso de Patrick Henry. Ou, os que não compactuam, podemos fazer greve: sumir e deixar que o Brasil apodreça.

Em 29 de Outubro de 2022.


[1] https://en.wikipedia.org/wiki/Atlas_Shrugged.

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Atlas_Shrugged.

[3] https://en.wikipedia.org/wiki/Ayn_Rand; https://pt.wikipedia.org/wiki/Ayn_Rand.

[4] Eu trabalhava, na ocasião, no Departamento de Filosofia do Pomona College, situado (a despeito do nome) em Claremont, CA, que é um pedaço da Nova Inglaterra no Sul da California. Quem me indicou e recomendou o livro foi meu colega, especializado em Ética e Filosofia Política (a minha área era Metafísica, Epistemologia e Filosofia da Religião), J. Charles King, mais tarde, se tornou presidente do Liberty Fund. Mais para o fim da vida, Charles, que era agnóstico ou ateu (os limites são fluidos, de vez em quando) se converteu à Igreja Anglicana e se tornou sacerdote. Ele, nascido em 1940, faleceu em 2019, dias antes de completar 79 anos. Vide seu interessante obituário em https://flannerbuchanan.com/obits/j-charles-king/. Sou para sempre devedor a ele pelo conselho que me deu de ler Ayn Rand, começando com Atlas Shrugged. Ele me disse, na ocasião, que, depois de ler essa livro, eu não iria sossegar enquanto não lesse tudo que Ayn Rand havia escrito. Na ocasião, ela ainda estava viva.

[5] Vide o texto complete do discurso em:
https://avalon.law.yale.edu/18th_century/patrick.asp. [Tradução minha.]

[6] Cp. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0910201005.htm. Fiz pequenas modificações de redação, sem alterar o sentido. Eu trabalhei no UNISAL, depois de aposentado da UNICAMP, até 2017. De 2014 a 2017 também trabalhei como Professor de História da Igreja e do Pensamento Cristão na Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (FATIPI), em São Paulo.

A greve dos que sustentam o mundo nas costas

Transcrevo abaixo artigo meu publicado na Folha de S. Paulo de hoje, na seção Cifras & Letras. 

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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0910201005.htm 

Cifras & Letras

CRÍTICA – LIBERALISMO

Ayn Rand ataca socialismo mostrando greve de patrões

Livro formou economistas como Alan Greenspan, ex-presidente do Fed

EDUARDO CHAVES

Especial para a Folha

A Bíblia do pensamento liberal na segunda metade do século não é um livro de economia ou de filosofia política: é um romance.

“Atlas Shrugged”, a clássica defesa da liberdade, do individualismo e do capitalismo escrita por Ayn Rand (1905-81), romancista e filósofa russo-americana, acaba de ganhar nova edição em português, com novo título: “A Revolta de Atlas”.

A edição anterior, publicada em 1987, e há muito esgotada, tinha o título de “Quem é John Galt?”. A tradução é a mesma, mas foi editada e revisada pela editora Sextante.

Com 1.232 páginas na presente edição, o livro tem um enredo extremamente complexo e bem elaborado, que não é possível resumir aqui.

No entanto, uma descrição, ainda que breve, do tema escolhido por Rand dá ideia da dimensão da obra.

Originalmente publicada em 1957, a história se passa nos Estados Unidos, numa época futura em que o país, seguindo o exemplo de países europeus e latino-americanos, caminha para o socialismo e resolve regular e assim controlar sua economia.

GREVE DOS CHEFES

O livro descreve o que acontece quando aqueles que (como Atlas) sustentam o mundo nas costas resolvem fazer greve, sacudindo o mundo dos ombros e deixando que literalmente se dane.

“Vamos ver o que acontece ao mundo quando quem faz greve contra quem” é frase (retirada do livro) que resume o tema da obra.

Entrando em greve, empresários americanos começam a desaparecer, abandonando suas empresas nas mãos de reguladores e controladores estatais. Grandes filósofos, cientistas e artistas também desaparecem, abandonando seus empreendimentos.

O lado otimista da história é que o Estado pode confiscar empresas e outros empreendimentos, mas não consegue obrigar empresários e outros empreendedores a lhe arrendar suas mentes, sua criatividade, sua competência, seu trabalho.

O Estado, portanto, que fique com os empreendimentos, decidem seus proprietários na história. Mas eles não colocam mais suas mentes a serviço da sustentação de um mundo onde esse tipo de confisco pode acontecer.

(Na realidade, o que deixam para o Estado espoliador não passa da carcaça de empresas e empreendimentos cuja alma eles levaram consigo.)

CAOS

A história narra nos mínimos detalhes o caos que resulta dessa inusitada greve em que aqueles que normalmente são vítimas das greves, os empreendedores, retiram do mercado sua mente e seu trabalho, e, no processo, deixam o mundo sem bens, sem serviços, sem empregos.

Quando Atlas faz greve, o mundo literalmente desmorona (mais ou menos como aconteceu com o mundo comunista em 1989).

Ao final da história, quando as luzes do velho mundo se apagam, simbolizando a derrocada que lhe sobrevém quando Atlas deixa de sustentá-lo, a porta está aberta para a construção de um mundo novo: a greve termina e Atlas está pronto para reassumir seu lugar.

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EDUARDO CHAVES foi professor de filosofia da Universidade Estadual de Campinas e, depois de aposentado, leciona filosofia da educação no Centro Universitário Salesiano de São Paulo.|

A REVOLTA DE ATLAS
AUTORA Ayn Rand
TRADUÇÃO Paulo Henriques Britto
EDITORA Sextante
QUANTO R$ 69,90 (1.232 págs.)

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Em São Paulo, 9 de Outubro de 2010

All Nobel Prizes in Literature

The Nobel Prize in Literature has been awarded 102 times to 106 Nobel Laureates between 1901 and 2009.

2010

Mario Vargas Llosa (announced today, Oct 7, 2010)

2009
Herta Müller

2008
Jean-Marie Gustave Le Clézio

2007
Doris Lessing

2006
Orhan Pamuk

2005
Harold Pinter

2004
Elfriede Jelinek

2003
John M. Coetzee

2002
Imre Kertész

2001
Sir Vidiadhar Surajprasad Naipaul

2000
Gao Xingjian

1999
Günter Grass

1998
José Saramago (Portuguese)

1997
Dario Fo

1996
Wislawa Szymborska

1995
Seamus Heaney

1994
Kenzaburo Oe

1993
Toni Morrison

1992
Derek Walcott

1991
Nadine Gordimer

1990
Octavio Paz (Mexican)

1989 
Camilo José Cela (Spanish)

1988
Naguib Mahfouz

1987
Joseph Brodsky

1986
Wole Soyinka

1985
Claude Simon

1984
Jaroslav Seifert

1983
William Golding

1982
Gabriel García Márquez (Colombian)

1981
Elias Canetti

1980
Czeslaw Milosz

1979
Odysseus Elytis

1978
Isaac Bashevis Singer

1977
Vicente Aleixandre (Spanish)

1976
Saul Bellow

1975
Eugenio Montale

1974
Eyvind Johnson, Harry Martinson

1973
Patrick White

1972
Heinrich Böll

1971
Pablo Neruda (Chilean)

1970
Aleksandr Isayevich Solzhenitsyn

1969
Samuel Beckett

1968
Yasunari Kawabata

1967
Miguel Angel Asturias (Guatemalan)

1966
Shmuel Yosef Agnon, Nelly Sachs

1965
Mikhail Aleksandrovich Sholokhov

1964
Jean-Paul Sartre

1963
Giorgos Seferis

1962
John Steinbeck

1961
Ivo Andric

1960
Saint-John Perse

1959
Salvatore Quasimodo

1958
Boris Leonidovich Pasternak

1957
Albert Camus

1956
Juan Ramón Jiménez

1955
Halldór Kiljan Laxness

1954
Ernest Miller Hemingway

1953
Sir Winston Leonard Spencer Churchill

1952
François Mauriac

1951
Pär Fabian Lagerkvist

1950
Earl (Bertrand Arthur William) Russell

1949
William Faulkner

1948
Thomas Stearns Eliot

1947
André Paul Guillaume Gide

1946
Hermann Hesse

1945
Gabriela Mistral (Chilean)

1944
Johannes Vilhelm Jensen

1943
No Nobel Prize was awarded this year. The prize money was with 1/3 allocated to the Main Fund and with 2/3 to the Special Fund of this prize section.

1942
No Nobel Prize was awarded this year. The prize money was with 1/3 allocated to the Main Fund and with 2/3 to the Special Fund of this prize section.

1941
No Nobel Prize was awarded this year. The prize money was with 1/3 allocated to the Main Fund and with 2/3 to the Special Fund of this prize section.

1940
No Nobel Prize was awarded this year. The prize money was with 1/3 allocated to the Main Fund and with 2/3 to the Special Fund of this prize section.

1939
Frans Eemil Sillanpää

1938
Pearl Buck

1937
Roger Martin du Gard

1936
Eugene Gladstone O’Neill

1935
No Nobel Prize was awarded this year. The prize money was with 1/3 allocated to the Main Fund and with 2/3 to the Special Fund of this prize section.

1934
Luigi Pirandello

1933
Ivan Alekseyevich Bunin

1932
John Galsworthy

1931
Erik Axel Karlfeldt

1930
Sinclair Lewis

1929
Thomas Mann

1928
Sigrid Undset

1927
Henri Bergson

1926
Grazia Deledda

1925
George Bernard Shaw

1924
Wladyslaw Stanislaw Reymont

1923
William Butler Yeats

1922
Jacinto Benavente

1921
Anatole France

1920
Knut Pedersen Hamsun

1919
Carl Friedrich Georg Spitteler

1918
No Nobel Prize was awarded this year. The prize money was allocated to the Special Fund of this prize section.

1917
Karl Adolph Gjellerup, Henrik Pontoppidan

1916
Carl Gustaf Verner von Heidenstam

1915
Romain Rolland

1914
No Nobel Prize was awarded this year. The prize money was allocated to the Special Fund of this prize section.

1913
Rabindranath Tagore

1912
Gerhart Johann Robert Hauptmann

1911
Count Maurice (Mooris) Polidore Marie Bernhard Maeterlinck

1910
Paul Johann Ludwig Heyse

1909
Selma Ottilia Lovisa Lagerlöf

1908
Rudolf Christoph Eucken

1907
Rudyard Kipling

1906
Giosuè Carducci

1905
Henryk Sienkiewicz

1904
Frédéric Mistral, José Echegaray y Eizaguirre

1903
Bjørnstjerne Martinus Bjørnson

1902
Christian Matthias Theodor Mommsen

1901
Sully Prudhomme

TO CITE THIS PAGE:

MLA style: "All Nobel Prizes in Literature". Nobelprize.org. 7 Oct 2010 http://nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/

Em São Paulo, 7 de Outubro de 2010

A Revolta de Atlas (Atlas Shrugged)

‎"Liberais e capitalistas do mundo, uni-vos!" – e metei a mão no bolso para gastar 56 reais.

A VEJA de 29/9/2010 traz artigo sobre Atlas Shrugged, de Ayn Rand, de 1957, que reaparece em Português (Editora Sextante), em nova edição, tradução de Paulo Henriques Britto, com o título de A Revolta de Atlas. Vendido em set de 3 volumes, por 69,90 (1232 págs), o livro começou a ser vendido nas livrarias hoje. A Cultura e a Saraiva estão oferecendo desconto de 20% na venda online. Comprei mais uma cópia, na Cultura. Encomendei ontem, pela Internet, recebi hoje à tarde em casa.

Para mim, é o melhor romance que já li. Recomendo-o sem reservas. É longo, mas é extremamente engajante.

Em São Paulo, 27 de Setembro de 2010

“O Mal a Evitar”

Impecável o Editorial do Estadão.

Fui colega de José Serra por muitos anos na UNICAMP. Nunca foi simpático. Trabalhei para ele no início do mandato dele no governo do Estado de São Paulo, em 2007. Apesar disso, continuei a acha-lo, no plano pessoal, chato, irritante mesmo, cheio de manias. Mas não tenho dúvida de que é o candidato mais honesto, mais íntegro, mais capaz e mais preparado para assumir o governo brasileiro no próximo ano. As mulheres que pretendem votar nelas que me desculpem, mas nem a Marina nem muito menos Dilma tem um décimo da competência e da capacidade de José Serra – para não falar em sua experiência. A Marina pode ter a mesma honestidade e integridade, mas não tem a competência, a capacidade e a experiência executiva de José Serra.

Por isso, endosso o Editorial do Estadão, no seu apoio a José Serra e nas suas críticas que faz a Lulla.

Se alguém tinha alguma dúvida quanto ao despreparo de Lulla para o exercício da Presidência da República, o último ano a removeu. Ele provou, além de qualquer dúvida, para quem quer ver, que não tem capacidade sequer para entender a dignidade do cargo que ocupa e pelo menos cumprir a liturgia da função que exerce. Comporta-se, nessas eleições, como cabo eleitoral barato de uma candidata que ele impôs, como porta-bandeira de um partido corrupto, que não se vexa de fazer seus trambiques e tramóias – ou suas maracutaias — na própria ante-sala da Presidência, no Palácio do Planalto, diante das barbas, certamente mal-cheirosas (porque ultimamente ele vive babando), do Presidente.

A se confirmarem os resultados das pesquisas, que Deus nos ajude. Vamos precisar. Nunca antes nesse país precisamos tanto. 

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O Estado de S. Paulo

26 de setembro de 2010

Editorial: O mal a evitar

A acusação do presidente da República de que a Imprensa “se comporta como um partido político” é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre “se comportar como um partido político” e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.

Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.

Efetivamente, não bastasse o embuste do “nunca antes”, agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.

Não precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes, alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem se orgulhar, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa – iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique – de promover o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana. Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto.

Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia – a começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o “cara”. Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: “Se ele pode ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?” Este é o mal a evitar.

Texto publicado na seção “Notas e Informações” da edição de 26/09/2010

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Em 27 de Setembro de 2010

Socialismo na escola

Já havia visto isso antes, mas recebi uma cópia hoje de um amigo, e resolvi compartilhar. A leitura é sempre instrutiva.

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SIMPLES E MUITO BEM EXPLICADO…

Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira.

Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e “justo”.

O professor então disse:

– Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe.. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas.

Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e, portanto seriam “justas”.

Com isso ele quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um "A"…

Depois que a média das primeiras provas foi tirada, todos receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.

Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos – eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos.. Como um resultado, a segunda média das provas foi "D". Ninguém gostou.

Depois da terceira prova, a média geral foi um "F". As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por “justiça” dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala.

Portanto, todos os alunos repetiram o ano… Para total surpresa!!!

O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado.

"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável."

"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade. Para cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém. Quando metade da população entende a idéia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.

"É impossível multiplicar riqueza dividindo-a e redistribuindo-a."

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Em São Caetano do Sul, 23 de Setembro de 2010

SoArte

O culto matinal da Catedral Evangélica (Primeira Igreja Presbiteriana Independente) de São Paulo celebrou os nove anos de operação do SoArte (Centro de Desenvolvimento Cultural e Artístico), um projeto social da igreja, mantido pelo Promover (Centro de Promoção Humana Otoniel Mota), organismo criado por ela, em 1999, para gerenciar seus projetos sociais.

Vide
http://www.catedralonline.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=80&Itemid=157

Participaram do culto a Orquestra Filarmônica Educacional (80 integrantes), a Orquestra de Câmara (18 integrantes), uma das quatro Bandas (15 integrantes), e o Madrigal (22 integrantes). Foi um verdadeiro festival de música sacra da melhor qualidade. Os hinos cantados / tocados foram, sem exceção, aqueles hinos tradicionais, clássicos mesmo, que eu conheço tão bem e dos quais em nenhum momento de minha vida deixe de amar e de cantar. Muitos deles sei de cór ainda hoje, pelo menos a primeira e a última estrofes (apesar de pequenas mudanças na letra, atualizando a linguagem meio envelhecida de poesias muitas vezes escritas por missionários em tradução de hinos americanos). Entre eles foram cantados hoje “A Deus Demos Glória”, “Eu Venho como Estou”, “Maravilhosa Graça”, “Conta as Bênçãos”, “Vivifica a tua Igreja”… A Orquestra Filarmônica fez um Postlúdio apoteótico tocando a Suite Eslava no 8, Opus 46, de Dvorak.

O Boletim completo do culto pode ser encontrado em

http://www.catedralonline.com.br/index.php?option=com_docman&Itemid=99.

Transcrevo, a seguir, o encarte do Boletim que fala sobre a SoArte:

[Início da Transcrição]

“SoArte: Transformando Sonhos em Realidade! Um Sonho que Dá Frutos!

Há nove anos nascia o SoArte – Centro de Desenvolvimento Cultural e Artístico. COm o nome de CEM (Centro de Educação Musical), começou com dez alunos e dois cursos de música. Hoje colhe os frutos de uma visão empreendedora e responsável, que permitiu a inclusão de mais de 250 pessoas no projeto.

Atualmente o SoArte oferece 18 cursos de música e sete práticas em conjunto: Orquesta Filarmônica Educacional (80 componentes), Coral Educacional (45 cantores), 4 Bandas (quinze integrantes), Camerata de Violões e Teclados (12 componentes), Orquestra de Câmara (18 integrantes), Madrigal (22 cantores), e Coral Infantojuvenil (17 integrantes).

O SoArte realiza cerca de 20 apresentações / concertos anuais e dois festivais.

O SoArte apresenta-se como uma alternativa de transformação de pessoas por meio da arte e contribui para a melhoria da qualidade de vida dos envolvidos com ele direta e indiretamente. Para atingir seus objetivos, conta com a participação de pessoas e empresas na manutenção do projeto, sem o que não seria possível a sua existência. Mas ainda há muito para ser realizado, haja vista a lista de espera com mais de 300 interessados, que aguardam a oportunidade de estudar no SoArte. O projeto precisa de recursos para bolsas de estudo e aquisição de instrumentos e equipamentos. ~

Com o olhar no futuro, o SoArte busca novos horizontes, desenvolvendo três grandes frentes de trabalho nas áreas de Educação e Cultura:

Primeira – Trabalhando na solidificação de projetos sócio-culturais que permitam acessabilidade a todas as pessoas, sem distinção de credo, raçca, cor ou sexo, mas com foco principal nos menos favorecidos;

Segunda – Executando ações para a criação de uma plataforma de cursos profissionalizantes;

Terceira – Planejando a criação de uma plataforma acadêmica e de pesquisa, que deverá ser a base de uma Faculdade de Artes.”

[Fim da transcrição]

A qualidade do trabalho é admirável.

Em São Paulo, 12 de Setembro de 2010

Gratidão

7 de Setembro de 2010. 

Amanheceu chovendo! 

Depois de uma eternidade sem chuva, em que a grama do sítio ficou russa, a estrada que leva a ele, uma poeira só, e o ar ficou tão seco que até as autoridades de saúde se preocuparam, choveu. Chove ainda… Il pleut encore! 

O dia do meu aniversário trouxe, como presente, a chuva tão esperada e desejada. 

É verdade que, quando percebi, de manhãzinha, que estava chovendo forte, com direito a trovões e tudo, fiquei preocupado. Minha filha mais nova, a Patrícia, prometeu vir para cá, hoje. Fiquei com medo de que a chuva atrapalhasse os planos. Para as crianças que já estão aqui – são quatro, se a gente, contra a vontade delas, esticar um pouco a definição de criança – a chuva é uma prisão que as obriga a ficar confinadas, dentro de casa, num sítio em que há tanto espaço aberto. Ainda bem que há o mezanino, onde montam quebra-cabeças (puzzles) no chão e jogam Nintendo DSi. 

Mas tomei a decisão de não ficar preocupado. Se a chuva dissuadir de vir aqueles que ainda não estão aqui, que seja. A chuva é bem-vinda. Ela é sinal de que a vida, por maior que tenha sido a devastação que o Inverno causou, continua embaixo da grama queimada, nos galhos sem folha de algumas árvores (como os meus plátanos), nas folhas amarronzadas pela poeira de outras. Resolvi adotar a filosofia do salmista: “Este é o dia que o Senhor nos deu: alegrêmo-nos e regozijêmo-nos nele.” Ainda que seja um dia chuvoso.

Sinto-me feliz, também, por citar a Bíblia naturalmente, sem ficar constrangido, como eu ficaria uns anos atrás. 

Afinal de contas, hoje faço 67 anos, feliz e com boa saúde. Amando. Amando assim de paixão. Isso, em si só, já é um milagre, nessa idade. Li um tempo atrás que na maior parte dos homens idosos que sofre de disfunção erétil a causa é tão simples quanto é triste: perderam o interesse sexual na parceira… Deixaram de amar. 

Na verdade, há muitos que, ao chegaram à idade em que passam a ser considerados idosos, já se desiludiram da vida, já abriram mão de amar. Aposentam-se não só do trabalho: aposentam-se também do amor e da vida. Poucos têm o privilégio de uma experiência como a minha – de vir a amar depois dos 60 anos, de se apaixonarem numa idade já mais do que madura, como se ainda fossem adolescentes… (Leonel Brizola teve, Roberto Marinho também, para citar apenas dois casos conhecidos e notórios.) E, milagre maior ainda, tendo o privilégio de ser amado por alguém que arriscou tudo o que tinha para ficar comigo, do meu lado, curtindo, no mesmo passo, as urzes da jornada (como diz a poesia). E, além de tudo o mais, amando e sendo amado pelos filhos, pelos netos, pelos irmãos, pelos sobrinhos, pelos filhos dos sobrinhos, pelos primos, pelos filhos dos primos. (Entre os filhos estão, sem dúvida, aqueles que a lei, mas não eu, considera enteados.) Por fim, amando e sendo amados por amigos queridos, quase irmãos. E não só sendo capaz de trabalhar, mas gostando dos desafios do trabalho, sentindo prazer em enfrentá-los. E, nos momentos de lazer, vendo e ouvindo os pássaros que, alegres pela chuva (e, imagino, pelo fato de estarem vivos), cantam, trinam, gorjeiam, chilreiam. Um bem-te-vi bemteviava agora aqui do lado na quaresmeira sem flores. 

[A propósito, tenho pena dos dicionaristas. Para o Houaiss o bem-te-vi é apenas uma “ave passeriforme (Pitangus sulphuratus), da família dos tiranídeos, que ocorre do Sul dos Estados Unidos à Patagônia; com cerca de 22 cm de comprimento, bico longo e forte, coloração pardo-olivácea no dorso, amarela no ventre e cabeça preta e branca com uma mancha amarela no vértice”. Ele nem sequer diz que o bem-te-vi se chama assim no Brasil porque ele canta bem-te-vi. Na verdade, ele nem diz que o bem-te-vi canta… Na verdade, um bem-te-vi descrito dessa forma nem vontade tem de bem-te-viar… Fica como o pássaro encantado do conto infantil do Rubem Alves que, engaiolado, perde a vontade de cantar, perde as cores das plumas — as do peito do bem-te-vi são amarelíssimas! Quando eu era criança lia uma revistinha metodista chamada “O Bem-Te-Vi”…]. 

Dois dias felizes, porque ontem a Paloma e eu celebramos, com simplicidade, carinho e muito amor, na companhia da irmã dela e de dois irmãos meus, dois anos de vida em conjunto. Parece que foi ontem, e, no entanto, já se passaram dois anos. E, mais importante, parece que (como disse Vinicius, na Valsinha, que o Chico tão bem musicou) o mundo finalmente compreendeu e deixou o dia amanhecer em paz. 

É isso. Fazia tempo que não escrevia assim com sentimento neste space. Faço-o hoje, em gratidão pelo amor, celebrado ontem, pela amizade, compartilhada nos dois dias, e pela vida, comemorada hoje — vida que me tem sido relativamente longa e bastante generosa. “Graças dou por esta vida”, dizia o hino que eu cantava na mocidade e de que meu pai tanto gostava. Continuo a cantá-lo. E a cantá-la, à vida. 

Em Salto, n’O Canto da Coruja, 7 de Setembro de 2010

(Em tempo 1: Meu casal de corujas parece ter sumido do ninho na área da casa velha… Espero que não tenham morrido, ou que não tenham abandonado o sítio em definitivo: que seja apenas hibernação — ou primaverização, posto que a Primavera está às portas… )

(Em tempo 2: As crianças – Priscilla, André e Bruno – salvaram um passarinho que havia caído na água da piscina. Precisaram quase ressuscitá-lo. Ele se aqueceu, se recompôs e, sem dize tchau, foi-se embora.)

(NOTA acrescentada depois: A chuva não afugentou ninguém dentre aqueles que deveriam vir… Todo mundo apareceu. E sol, como que para brindar todo mundo, deu as caras no final do dia.)

Salto, em ‘O Canto da Coruja’, no dia 7 de Setembro de 2010… 

P.S. de 3 de Novembro de 2022: revi o artigo, e, que a modéstia me dê um descanso, me emocionei. Mais com a lembrança dos eventos do que com o post em si. Hoje estou com 79 anos. Mais de doze anos se passaram. E, graças a Deus, continuo bem e mais feliz ainda do que estava doze anos atrás. 

Eta país complicado…

Estou no Aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador. Cheguei aqui um pouquinho antes do meio dia e tenho cinco horas de espera para voltar para São Paulo. Estou com meu computador e meu Modem 3G Claro. Mas a bateria de meu computador não dura cinco horas. Na verdade, nem quatro. Fui procurar um lugar com tomada em que pudesse me sentar, ainda que pagando para comer ou beber alguma coisa. Na Praça de Alimentação (há uma aqui) existem algumas tomadas, mas todas tomadas (desculpem o trocadilho) por gente que não parece que vai sair do lugar antes de amanhã. Acabei parando num lugar chamado Conexão Café, onde comi duas empadas e tomei uma cerveja – mas sem tomada. Meu computador indica que minha bateria vai durar 1h57m. São 12h48. Isso significa que, dentro de duas horas, estarei sem computador.

Quando é que as construtoras de aeroportos vão se dar conta de que quase todo mundo hoje viaja com computador, celular, DVD Player, Video Game, etc. e que esses dispositivos precisam ser carregados, especialmente diante das esperas homéricas em nossas carentes aeroportos???

Arre… Queria morar em um país civilizado, onde aeroportos tivessem tomadas à vontade, onde qualquer gaiato não pudesse olhar as declarações de Imposto de Renda da gente… E onde governantes e governados não achassem que estão vivendo no Éden antes da queda…

Em Salvador, 3 de Setembro de 2010