Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes

Sentença proferida contra os réus do levante e conjuração de Minas Gerais:

“Portanto condenam o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi do Regimento pago da Capitania de Minas, a que, com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde no lugar mais público dela, será pregada em um poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes, pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios das maiores povoações, até que o tempo também os consuma, declaram o réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados, e mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infâmia deste abominável réu”.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tiradentes

Em São Paulo, 21 de Abril de 2010

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Carta Renúncia de Janio Quadros (25/08/1961)

Mais um acontecimento significativo da História do Brasil teve lugar num mês de Agosto…

Quarenta e oito anos atrás, neste dia, Janio Quadros renunciava à Presidência da República, apenas sete meses depois de ter sido consagrado com a maior vitória que um candidato a Presidente já havia tido na história do Brasil

Jânio Quadros

Eis o texto de sua Carta Renúncia:

"Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.

Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.

Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranqüilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.

Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.

Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.

Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria.

Brasília, 25 de agosto de 1961.

Jânio Quadros"

Escrito e transcrito em São Paulo, 25 de Agosto de 2009

Carta Testamento de Getúlio Vargas (24/08/1954)

Hoje faz 55 anos que Getúlio Vargas se suicidou, deixando ao país sua “Carta Testamento”, transcrita a seguir.


Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo.

A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.

Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.

E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

Rio de Janeiro, 23/08/54

Getúlio Vargas

Transcrito em São Paulo, 24 de agosto de 2009 – 55 anos depois

25 de Agosto

25 de Agosto é Dia do Soldado – com homenagem para o Duque de Caxias. Mas é também o dia em que Jânio da Silva Quadros renunciou à Presidência do Brasil em 1961. Começaram aí as escaramuças que, no devido tempo, um pouco mais de dois anos e meio depois, levaram ao Golpe Militar de 1964 e aos vinte anos de ditadura. 

Getúlio, em 24 de Agosto de 1954, deixou uma Carta Testamento. Jânio, sete anos e um dia depois, deixou uma Carta Renúncia. É este o texto dela.

          "Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.

          Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.

          Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranqüilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.

          Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.

          Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.

          Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria."

Brasília, 25 de agosto de 1961.

Jânio Quadros"

Na época da eleição em 1960 do Jânio eu tinha dezessete anos e, portanto, não podia votar ainda. Mas torci por ele e fiquei contente com sua vitória. Não achei nenhuma graça nos seu curto governo (menos de sete de meses: 31/1/61 a 25/8/61), entretanto. No plano doméstico, ele focou sua energia em questiúnculas sem importância, verdadeiros factóides: a proibição do uso de biquini nos concursos de miss televisionados, de brigas de galo, do uso de lança perfume, coisas desse tipo. Tentou regulamentar o carteado. No plano externo, reatou relações diplomáticas comerciais com a União Soviética e com a China Comunista, esta então ainda dominada com mão de ferro pelo fascínora Mao Tse Tung. Pior ainda, dias antes de renunciar condecorou com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul ninguém menos do que Che Guevara, outro fascínora, que só não matou tantos quanto Mao Tse Tung porque não chegou a ter tanto poder. A condecoração de Che Guevara criou condições para aqueles que desejam desestabilizar o seu governo e, dias depois, ele se viu na necessidade de renunciar.

Conheci Jânio Quadros pessoalmente quando ele era Prefeito de São Paulo. Deu-me uma grande foto dele autografada. Apesar do governo chinfrim e da renúncia, continuei gostando dele até o fim. Torci para ele contra Mário Covas quando se candidatou a Prefeito de São Paulo, embora mais uma vez não tivesse votado nele por não ser eleitor na Capital. Guardo com carinho a foto que ele me deu e outra, a foto oficial de quando tomou posse como Governador de São Paulo em 1956, foto essa que, por vias complicadas e tortuosas, me chegou às mãos.

Em Salto, 25 de Agosto de 2008.

24 de Agosto

Hoje comemoram-se várias datas. Algumas conhecidas, outras desconhecidas, outras conhecidas de poucos.

A data mais famosa e conhecida que hoje se relembra é a da morte de Getúlio Vargas. Em 24 de Agosto de 1954 ele se suicidou com um tiro no peito em seus aposentos no Palácio do Catete. Deixou uma linda Carta Testamento, que transcrevo a seguir:

          "Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

          Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.

          Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

          Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

          Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.

          E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."

Rio de Janeiro, 23 de Agosto de 1954

Getúlio Vargas"

Este é um documento daqueles que transcendem o momento histórico em que foram escritos. Eu tinha quase onze anos quando o Getúlio se matou. Lembro-me de meu pai chorando feito criança quando ouviu, no Matutino Tupi, do jornalista Corifeu de Azevedo Marques, que Getúlio havia se suicidado. Renunciou à vida. Deixou a vida para entrar na história, como ele mesmo o disse.

Mas muitas outras datas pouco conhecidas, ou totalmente desconhecidas, se celebram hoje. Quem vai saber o que aconteceu um século, uma década, um ano, um mês, uma semana atrás. Ou o que aconteceu ontem. Centenários, decadários, aniversários, mensários, semanários, diários.

Ao lembrar da morte de Getúlio, lembro-me também da mini-série "Agosto" da Globo. Com a Vera Fischer, mais linda do que nunca, amando José Meyer ao som de Una Furtiva Lacrima, cantada por Bieniamino Gigli. (Prefiro Una Furtiva Lacrima cantada por Nana Moskouri, mas a versão escolhida por quem dirigiu "Agosto" é suficientemente boa). Além desse linda música, a mini-série teve outros destaques musicais: Mulher, Mulher, com Sílvio Caldas, J’attendrai, com Jean Sablon…

A propósito de Jean Sablon, há uma história interessante. Desde que era criança, em Maringá, nos anos 1947-1951, conheço o nome próprio Jean Sablon — e o substantivo comum jeansablon, que se referia a uma jaqueta do tipo dupla face que Jean Sablon costumava usar. Do cantor, lembrava-me de algumas músicas que ele cantava e que me fascinavam… Quanto criei meu primeiro site (http://chaves.com.br) em 1995 coloquei uma seção sobre Favoritos — cantores, músicas, atores, filmes — e, na seção Cantores, diferenciei cantores brasileiros, americanos e franceses, e, na sub-seção de Cantores Franceses, coloquei Jean Sablon, porque a mini-série "Agosto" acabava de ser exibida e a música "J’attendrai" ficara no meu inconsciente. Um tempo depois, creio que em 1996, recebi uma carta, com envelope sofisticado e lindamente sobrescrito, vinda da Bélgica. Era o biógrafo de Jean Sablon. Disse-me ele que estava escrevendo a biografia de Jean Sablon, que havia morrido há pouco, e que estava procurando na Internet referências ao biografado quando encontrou o meu site. Queria saber como eu havia ficado conhecendo Jean Sablon. Escrevi de volta, dizendo que Jean Sablon era um nome famoso na minha infância, mas que apenas me havia me lembrado dele por causa da mini-série… Ele me escreveu de volta perguntando se podia me enviar xerox de materiais relativos à vida de Jean Sablon no Brasil. Disse-lhe que sim. Alguns dias depois recebi um pacote enorme de xeroxes de jornais e revistas, que me mostraram que Jean Sablon passava seus verões no Brasil, na década de 30 e 40. Na verdade, tinha em um sítio em São João da Boa Vista, entre Campinas e Poços de Caldas, e fora amigo de Roberto Marinho, Carmen Mayrink Veiga, e vários outros socialites da época. Mandou-me também uma foto de Jean Sablon. O episódio pela primeira vez me tornou consciente do poder da Internet…

Enfim, tudo isso por causa de um dia 24 de Agosto…

Em Salto, 24 de Agosto de 2008

História do Comunismo nos Estados Unidos

Como mencionei em artigo anterior, li, nessas férias de fim de ano, The Secret World of American Communism, de Harvey Klehr, John Earl Haynes, e Fridrikh Igorevich Firsov. Fiz uma breve resenha do livro naquele artigo.

Procurando mais informação na Internet, descobri que aquele livro fazia parte da série Annals of Communism Series, publicada pela Yale University Press. O endereço do site da série é http://yalepress.yale.edu/yupbooks/SeriesPage.asp?Series=8 

Descobri também que os dois autores americanos do livro escreveram também um outro,  chamado The Soviet World of American Communism (este com Kyrill M. Anderson).

A seguir, um breve resumo de cada um desses livros, retirado do site da Yale University Press. 

The Secret World of American Communism

Harvey Klehr, John Earl Haynes, and Fridrikh Igorevich Firsov; Russian documents translated by Timothy D. Sergay

For the first time, the hidden world of American communism can be examined with the help of documents from the recently opened archives of the former Soviet Union. By interweaving narrative and documents, the authors of this book present a convincing new picture of the Communist Party of the United States of America (CPUSA), one of the most controversial organizations in American public life. Heated debates about whether the Communist Party harbored spies or engaged in espionage have surrounded the party from its inception. This authoritative book provides proof that the CPUSA was involved in various subversive activities. At the same time, it discloses fascinating details about the workings of the party and about the ordinary Americans and CPUSA leaders who participated in its clandestine activities.

The documents presented range from letters by Americans wishing to do international covert work for the Soviet Union to top secret memos between the head of Soviet foreign intelligence, the Comintern, and the CPUSA. They confirm that:

the Soviet Union heavily subsidized the CPUSA and that some prominent Americans laundered money for the Comintern;

the CPUSA maintained a covert espionage apparatus in the United States with direct ties to Soviet intelligence;

the testimony of former Communists concerning underground Communist activity in the United States can be substantiated;

American Communists working in government agencies stole documents and passed them to the CPUSA, which sent them on to Moscow;

the CPUSA played a role in atomic espionage;

and much more.

An engrossing narrative places the documents in their historical context and explains key figures, organizations, and events. Together the narrative and documents provide a revealing picture of American communism and convey the contradictory passions that drew so many Americans into the Communist movement and eventually tore that movement apart.

Harvey Klehr, the Samuel Candler Dobbs Professor of Politics at Emory University, is also the author of The Heyday of American Communism. John Earl Haynes is a specialist in twentieth-century American history at the Library of Congress. Fridrikh Igorevich Firsov is former head of the Comintern Archive at the Russian Center for the Preservation and Study of Documents of Recent History. All three are working on additional volumes about communism in America.

http://yalepress.yale.edu/yupbooks/book.asp?isbn=9780300068559

The Soviet World of American Communism

Harvey Klehr, John Earl Haynes, and Kyrill M. Anderson

Named an Outstanding Contemporary Book Finalist by the Templeton Honor Rolls for Education in a Free Society

The Secret World of American Communism (1995), filled with revelations about Communist party covert operations in the United States, created an international sensation. Now the American authors of that book, along with Soviet archivist Kyrill M. Anderson, offer a second volume of profound social, political, and historical importance.

Based on documents newly available from Russian archives, The Soviet World of American Communism conclusively demonstrates the continuous and intimate ties between the Communist Party of the United States of America (CPUSA) and Moscow. In a meticulous investigation of the personal, organizational, and financial links between the CPUSA and Soviet Communists, the authors find that Moscow maintained extensive control of the CPUSA, even of the American rank and file. The widely accepted view that the CPUSA was essentially an idealistic organization devoted to the pursuit of social justice must be radically revised, say the authors. Although individuals within the organization may not have been aware of Moscow’s influence, the leaders of the organization most definitely were.

The authors explain and annotate ninety-five documents, reproduced here in their entirety or in large part, and they quote from hundreds of others to reveal the actual workings of the American Communist party. They show that:

• the USSR covertly provided a large part of the CPUSA budget from the early 1920s to the end of the 1980s;

• Moscow issued orders, which the CPUSA obeyed, on issues ranging from what political decisions the American party should make to who should serve in the party leadership;

• the CPUSA endorsed Stalin’s purges and the persecution of Americans living in Russia.

Harvey Klehr is Andrew W. Mellon Professor of Politics and History at Emory University. John Earl Haynes is 20th Century Political Historian at the Library of Congress. Kyrill M. Anderson is director of the Russian Center for the Preservation and Study of Documents of Recent History (RTsKhIDNI).

http://yalepress.yale.edu/yupbooks/book.asp?isbn=9780300071504

Em Campinas, 3 de Janeiro de 2008

Diana: dez anos depois

Hoje é dia 31 de agosto (pelo menos aqui em Taipei já é). Faz dez anos que morreu Diana, a Princesa de Gales. Lembro-me perfeitamente de onde estava, e do que estava fazendo, quando soube (da mesma forma que me lembro perfeitamente de onde estava e do que estava fazendo quando soube que John Kennedy havia morrido). Estava em Poços de Caldas, numa suite do último andar do Hotel Carlton, com a Sueli, minha mulher. Ela já estava dormindo e eu lia e assistia à televisão quando veio a primeira edição extraordinária da Globo, comunicando o grave acidente. Não dormi mais aquela noite, os olhos alternando entre o livro que lia (não me lembro de qual era) e a tela do televisor.

Era impossível não gostar de Diana — da mesma forma que é  impossível gostar de Charles e Camilla. Ela era jovem, linda, sensível, apaixonada, e casou-se pensando que tudo no casamento iria ser como num conto de fadas, nunca imaginando que o sonho do marido era ser um tampão utilizado por Camilla… (Quanto mau gosto para demonstrar tesão… Será que Charles nunca leu um livro erótico realmente sensível?).

Não deu certo — e, estou convicto, não por culpa dela. Seus problemas pessoais, seus casos amorosos, são todos decorrentes da insensibilidade daquilo a que se dá o nome de Príncipe de Gales. Espero que nunca venha a ser rei — e que a Rainha Elizabeth encontre um jeito de fazer com que seu sucessor seja o filho mais velho de Diana, que, pelo menos fisicamente, parece com ela.

Hoje faz dez anos que ela morreu. Na CNN não se fala de outra coisa — discutindo-se até mesmo a possibilidade de que tivesse sido assassinada a mando da família real, que não suportaria ver a ex-sucessora ao trono casar-se com um maometano… Na minha memória fica, porém, aquela face linda e sensível. Camilla pode ter herdado Charles — mas nunca vai conseguir ter um olhar como tinha Diana.

Fica aqui minha homenagem.

Em Taipei, 31 de Agosto de 2007

Getúlio Vargas

Mais um 24 de Agosto, mais um aniversário do suicídio de Getúlio Vargas. Faz, este ano, cinqüenta e três anos que ele se matou.

Tenho, em casa, uma cópia dos diários mantidos pelo mais famoso dos presidentes brasileiros — que governou dando um golpe (em 1930) e, depois, dando golpes dentro do golpe (em 1934 e em 1937) e, depois disso tudo, ainda foi eleito pelo voto popular em 1950 (fato que diz coisas importantes sobre Getúlio e sobre o voto popular…). Em 2002 e 2006 elegemos, pelo voto direto, um presidente que  tem notórias e sabidas simpatias pelo maior Ditador das Américas em todos os tempos — El Comandante, que, se o Diabo não o levar antes, fará, dentro de um ano e meio, cinqüenta anos sanguinários no poder — e que sabidamente é amigo pessoal e aliado político de um Aprendiz de Ditador que, infelizmente, tem um sobrenome parecido com o meu…  

Mas voltemos ao Getúlio, ditador com o qual Lulla gosta, de vez em quando, de se comparar. Os diários de Getúlio são longos: a versão impressa tem dois grossos volumes, passando, creio, das mil páginas.

Deixando a vida pública de lado e concentrando um pouco a atenção na pessoa de Getúlio, ele (como Dom Pedro I e, agora sei, Dom Pedro II) também era conhecido por suas escapadelas sexuais (que ele anotava, de forma meio cifrada, nos diários). Dizem que teve um caso longo, se não me engano com a Virginia Lane, na época vedette famosa.

Fico aqui imaginando, com meus botões, e pensando em Dom Pedro I (um verdadeiro galinha, sem a menor compostura), Dom Pedro II, Getúlio, Juscelino, Collor, Itamar, FHC, Lulla — ou, lá fora, Roosevelt, Kennedy, Clinton, para não mencionar Mitterrand: será que houve Presidente da República que foi fiel à sua mulher?

Fico pensando… O Dutra deve ter sido. O Castelo Branco, também. E o Geisel, luterano, também. Será que só os generais sisudos terão sido fiéis às suas mulheres? O Sarney? Será? Dona Marly não me parece inspirar grandes paixões, estando mais para a Imperatriz Teresa Cristina do que para a Duquesa de Carral.

Faz diferença, no plano público e político? Tendo a crer que não, embora me pareça evidente que um cara que não hesita em enganar a mulher não terá escrúpulo nenhum em enganar a população de seu país…

Mas parece que, diferentemente das mulheres dos homens famosos, que protestam ou às vezes sofrem em silêncio, o brasileiro gosta de ser enganado pelos seus presidentes — e até os (re-)elege pelo voto popular, apesar das escapadas sexuais e das mentiras patentes que tentam nos impingir em outras áreas, menos pessoais e mais públicas.

Acima do Pacífico, em 24 de Agosto de 2007      

Dom Pedro II

O Axel de Ferran, colega de listas de discussão na Internet, está me convencendo a me interessar por personagens da história do Brasil Império: especialmente o Visconde de Mauá e Dom Pedro II.

Na livraria La Selva do Aeroporto de Cumbica ontem (ante-ontem, se contarmos o fato de que, pelos fusos horários e pela Linha Internacional do Tempo já estou no dia 24) procurei a biografia do Visconde de Mauá que o Axel me recomendou, de Jorge Caldeira. Não tinham. Mas encontrei uma biografia recente (o livro foi impresso no mês passado, Julho de 2007) de Dom Pedro II. Li uns pedaços na livraria e resolvi comprar. Não terminei de ler ainda, mas já li o suficiente para achar muito interessante.

O Axel parece achar que Dom Pedro II sofria de inveja crônica do Visconde de Mauá. Pode ser. Mas o nosso último imperador foi uma pessoa impressionante, sob todos os aspectos. Inteligente, culto, sensato, justo, cordato, sem apego ao poder, mas disposto a cumprir seu dever imperial com toda a majestade.

Na minha imaginação formada pelos cursos de história do Ensino Básico, pois nunca havia lido nada sobre Dom Pedro II, o imperador, que governou durante cinqüenta anos, era uma figura austera e imponente, marido e pai devotado, respectivamente, da Imperatiz Teresa Cristina e das princesas Leopoldina (em homenagem à avó — a mulher de Dom Pedro I) e Isabel. No livro descobri que ele achava a imperatiz bastante chata, sem conversa, e que teve vários casos de amor, alguns tórridos, o mais longo e importante deles sendo com a Condessa de Carral. Podemos dizer que a Condessa de Carral foi o grande amor da vida de Dom Pedro II, a pessoa com quem ele mais gostava de conversar e trocar idéias, mesmo que por cartas, e que, portanto, além de amante, era amiga. A Imperatriz, naturalmente, a detestava mas, noblesse oblige, trocou várias cartas muita civilizadas com ela. Mas as filhas de Dom Pedro II, especialmente a Princesa Isabel, gostavam muito da Condessa. Segundo o autor da biografia (José Murilo de Carvalho, professor da História da UFRJ, que, apesar de acadêmico, consegue escrever num estilo deliciosamente legível), Isabel amava mais a Condessa (que foi sua preceptora) do que a própria mãe. A Condessa, assim, roubou da Imperatriz não só o marido, mas também as filhas.

Curiosas essas coisas.

Essa história me fez lembrar da biografia de outro famoso que li recentemente: Franklin Roosevelt. O quatro-vezes Presidente dos Estados Unidos se casou cedo com sua prima Eleanor Roosevelt (que já tinha o sobrenome Roosevelt antes de se casar). Segundo o biógrafo, foi na igreja, no dia do casamento, que ambos trocaram o primeiro beijo, virgens da silva. Mas Eleanor, segundo todos os relatos, embora inteligente, era uma chata — e não demorou para Roosevelt achar o amor de sua vida, Lucy Mercer (ao qual, entretanto, diferente de Pedro de Alcântara, teve de renunciar, porque a manutenção do romance teria arruinado sua carreira política nos Estados Unidos conservadores dos anos 20). Renunciou, na verdade, não ao amor, mas ao caso. Amar, continuou amando a Lucy Mercer até o final da vida. Ela passou os últimos anos ao lado dele, quando ele já estava velho, paralítico e doente e era a única pessoa que estava ao seu lado quando ele morreu.

Tristes esses amores impossíveis.

Mas o que me chamou a atenção neste caso também foi o fato de que os filhos de Roosevelt sabiam do caso, compreendiam o amor do pai (dada a natureza meio desamante da mãe), e se relacionavam bem com Lucy Mercer — da qual se tornaram bons amigos. E Eleanor Roosevelt, ela própria, embora não nobre, foi capaz de gestos de grande elegância em relação à rival. Diz a biografia que Lucy Mercer havia pedido a um amigo seu que fizesse um quadro de Roosevelt, que estava entre os pertences dele quando ele morreu. Sabedora da história, Eleanor, a mulher, mandou empacotar o quadro e o enviou à rival, com uma carta dizendo (entre outras coisas): "Estou certa de que você gostaria de guardar isso". Mais do que civilidade, nobreza.

Voltando à biografia de Dom Pedro II, José Murilo de Carvalho relata que durante sua longa viagem aos Estados Unidos, país que fascinava o Imperador, a imprensa americana ficou impressionada não tanto por sua majestade imperial, mas por Pedro de Alcântara, cidadão brasileiro, que dispensou as frescuras do protocolo, andava sozinho, sem seguranças e comitivas, pagava passagem em barcos, trens e peças de teatro, conversava com plebeus e lhes dava a maior atenção… Foi chamado na imprensa de "O Imperador Ianque". Um jornalista até brincou com as palavras, dizendo que Dom Pedro II nos Estados Unidos era um imperador que se considerava um homem comum numa terra em que o homem comum se sente um imperador… Bello jogo de palavras.

Vale a pena ler a biografia de Dom Pedro II. Recomendo. Quando confrontado com a inevitabilidade da República, Dom Pedro II renunciou sem causar problemas, abriu mão da pensão vitalicia que o novo governo havia lhe oferecido, e foi para a Europa em exílio, onde, longe da terra que amava e do país ao qual dedicou sua vida (foi aclamado Imperador aos cinco anos e assumiu o cargo de fato aos quatorze), morreu pouco tempo depois, três dias depois de completar sessenta e seis anos.

Fico imaginando se o Brasil teria tido melhor sorte se a Princesa Isabel tivesse sucedido ao pai, e, depois, tivesse sido sucedida por seu filho, e assim por diante, do que tivemos nas mãos de tantos marechais e generais presidentes — (Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Hermes da Fonseca, Eurico Gaspar Dutra, Humberto de Alencar Castello Branco, Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel, João Baptista Figueiredo…) Getúlio não era Marechal nem General mas foi ditador, e bem violento… Jãnio foi eleito democraticamente mas, segundo alguns, também queria ser ditador… Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lulla (este amigo de um mega-ditador e de um aprendiz do ofício)… Será que valeu realmente a pena despachar Dom Pedro II para o exílio e criar a República?

E, voltando à alegação do Axel de Ferran, de que Dom Pedro tinha inveja do Visconde de Mauá, pergunto-me: será? E, se tinha, tinha razão de ter? Está certo que Mauá foi mais mais homem de ação do que ele. Mas a figura de Dom Pedro II, como homem público, não parece que fique a dever nada ao Visconde de Mauá na política e, certamente, na cultura e na nobreza dos princípios e sentimentos.

(Em tempo: Dom Pedro II era primo de Franz Joseph (Francisco José), o último imperador do Império Austro-Húngaro, marido de Elizabeth / Sissi, assassinada ao lado do Lac Leman, em Genebra, por um anarquista italiano. Em outras palavras: nosso Imperador maior foi primo, por casamento, da mais famosa imperatriz da Áustria e da Hungria!!! E também era primo, naturalmente, do Imperador Maximilliam (Maximiliano), do México, que era irmão mais novo de Franz Joseph).

Acima do Pacífico, em 24 de Agosto de 2007