Eu juro que eu havia prometido a mim mesmo não escrever sobre isso, mas não resisto — embora, tenho certeza, alguns de meus leitores possam julgar o assunto de gosto duvidoso, quando não de profundo mau-gosto. Trata-se das privadas dos hotéis japoneses — em especial a do Four Seasons em que estou hospedado e que, portanto, conheço de primeira mão (mão?).
O banheiro é dividido em três saletinhas: uma tem a pia, outra tem o chuveiro e a banheira, e a última tem o vaso sanitário. Quando entrei nessa última, levei um susto: o vaso sanitário era de uma complexidade inacreditável, cheio de caninhos e fios, e, ao lado, com um painel complicado, cheio de botões. O painel contém texto em Japonês, mas tem uns iconezinhos que são uma gracinha (Hebe: desculpe o plágio!). Na parede, ao lado, há uma explicação em Inglês sobre o uso do painel e de toda a aparelhagem. (E há um aviso: apesar de este vaso sanitário ter inúmeras funções automatizadas, a descarga não é automática: por favor aperta a alavanca à esquerda depois de usar).
Em primeiro lugar, há uma advertência: não tente operar o painel sem estar sentado no vaso sanitário. Creio que a razão é evidente: você pode levar um banho.
Em segundo lugar, há um aviso: o assento é aquecido, mas a temperatura é suave ("gentle") — e, portanto não há risco de a gente queimar a bunda. (Já que decidi escrever sobre o assunto, não vou ficar falando em nádegas, região glútea, etc., porque isso é absoluta frescuragem a que nem mesmo a fresca Folha de S. Paulo recorre mais).
Em terceiro lugar, e muito sabiamente, o primeiro botão é "Cancel/Stop" — ele cancela ou interrompe a operação de qualquer um dos outros três botões. Assim, se algo der errado, a solução está ali à mão, logo no primeiro botão.
Finalmente — acredito que fiz suspense suficiente — aqui vai uma breve descrição da operação dos demais botões (do segundo ao quarto).
O segundo botão lança um jato de água morna e relativamente forte bem na direção da parte do corpo usada, tanto por homens como por mulheres, para o que a criativa gíria brasileira chama de "Número Dois". (Tudo bom, gente, eu poderia ser mais explícito, mas até eu tenho cá meus limites). O jato de água (le jet d’eau, como diriam os franceses) continua até que você aperte o botão número um. (Aqui entre nós, o iconezinho que ilustra esse botão, o segundo, é bem descritivo: é uma bundinha bonitinha (mas estilizada) se equilibrando em cima de algo parecido com um mini-chafariz. Os mais chegados ao bom-tom que me desculpem, mas tirei até uma foto do iconezinho, tão gracioso ele é.)
O terceiro botão faz mais ou menos a mesma coisa, mas com um jato de água mais suave ("gentle") — sempre aquecido. Creio que sirva para enxaguar. (A privada não tem um quadrinho com FAQs).
O interessante é o quarto e último botão — que tem o nome de "Bidet". Quando você o aperta, vem um novo jato de água forte e morno, mas agora numa direção diferente, um pouco mais para a frente. Concluí que a maior parte dos homens dificilmente vai usar esse botão, a menos que deseje massagear a próstata… O iconezinho desse botão também é gracioso: é uma mulherzinha flutuando em cima do chafarizinho. Sabe-se que é uma mulherzinha porque o cabelo é comprido, preso num rabinho-de-cavalo: a mulherzinha do ícone, como boa parte das mulheres japonesas, nao tem quase nenhum seio.
Bom, acho que consegui descrever essa importante tecnologia de higiene pessoal sem descambar para a grosseria ou o mau-gosto. Pelo menos, espero.
Como diria o outro, só japonês mesmo para inventar uma coisa dessas…
[Em tempo 1: Escolhi, como Categoria para esse artigo, "Health and Wellness". Pareceu-me a categoria mais próxima…]
[Em tempo 2: Se a casa da Lisa Belkin, que escreveu o artigo que transcrevi na matéria anterior, tivesse essa importante tecnologia japonesa, ela não precisaria ter roubado o rolo de papel higiênico de sua empresa, roubo que, pelo jeito, a deixou tão traumatizada que, no artigo, prometeu nunca mais fazer isso…]
[Em tempo 3: Meu amigo Julio de Angelis descobriu o site dessa importante tecnologia: http://www.washlet.com. Os modelos exibidos lá são ainda mais sofisticados. E o site é um barato: não deixem de ver/ouvir os depoimentos!]
Em Tokyo, 4 de Setembro de 2007